Gastrite ou refluxo: como diferenciar os sintomas?30 de outubro 2025
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Entenda a inflamação que causa dor e queimação no estômago, aprenda a diferenciar seus tipos e saiba o que fazer.

Resumo:

  • Gastrite é a inflamação da mucosa que reveste o estômago, podendo ser aguda ou crônica.
  • Os sintomas mais comuns incluem dor na parte superior do abdômen, queimação, azia, náuseas e sensação de estômago cheio.
  • A gastrite é comum e muitas vezes assintomática, não estando o desconforto estomacal sempre ligado à sua presença.
  • As principais causas envolvem a bactéria H. pylori (que pode levar à gastrite atrófica e risco de câncer), uso de anti-inflamatórios, estresse e consumo de álcool, além de condições imunológicas.
  • O diagnóstico preciso geralmente requer uma endoscopia digestiva com biópsia.
  • O tratamento varia conforme a causa e deve ser sempre orientado por um gastroenterologista.

Aquela queimação incômoda no estômago depois do almoço, que às vezes vem acompanhada de uma dor na “boca do estômago”, é uma queixa comum para muitas pessoas. Frequentemente ignorado como um simples mal-estar, esse pode ser um sinal de gastrite, uma condição que merece atenção e cuidado.

Compreender o que é a gastrite, seus diferentes tipos e os sinais que o corpo emite é o primeiro passo para buscar o alívio adequado e, mais importante, cuidar da sua saúde digestiva de forma eficaz. Ignorar os sintomas pode levar a complicações mais sérias no futuro.

O que é gastrite?

A gastrite é definida como uma inflamação, infecção ou erosão do revestimento interno do estômago, conhecido como mucosa gástrica. Essa mucosa tem a função de proteger a parede do órgão da acidez do suco gástrico, essencial para a digestão dos alimentos.

Quando essa barreira protetora enfraquece ou é danificada, o ácido gástrico entra em contato direto com a parede do estômago. Esse contato causa a inflamação, resultando nos sintomas característicos de dor e desconforto. É importante notar que a gastrite é uma condição comum e muitas vezes não apresenta sintomas, o que significa que o desconforto estomacal nem sempre está diretamente ligado à presença de gastrite.

Quais são os principais sintomas da gastrite?

Os sinais da gastrite podem variar em intensidade de pessoa para pessoa, mas alguns são mais frequentes. É importante estar atento a manifestações que persistem ou se agravam com o tempo.

  • Dor na parte superior da barriga: frequentemente descrita como uma dor em queimação ou pontadas na “boca do estômago”.
  • Azia ou queimação: sensação que pode piorar ao deitar ou após as refeições.
  • Náuseas e vômitos: em alguns casos, o vômito pode conter traços de sangue.
  • Sensação de estufamento: sentir-se “cheio” rapidamente, mesmo após comer pouco.
  • Perda de apetite: o desconforto pode levar à diminuição da vontade de comer.
  • Indigestão: arrotos frequentes e sensação de má digestão.

Sinais de alerta: quando a gastrite pode ser grave?

Embora muitos casos sejam leves, certos sintomas exigem uma avaliação médica imediata, pois podem indicar complicações como úlceras ou sangramentos. Procure um especialista se apresentar:

  • Vômito com sangue vivo ou com aspecto de borra de café.
  • Fezes muito escuras, quase pretas, e com odor forte.
  • Dor abdominal intensa e que não melhora.
  • Perda de peso não intencional e rápida.
  • Fadiga extrema e palidez.

Quais são os tipos de gastrite?

A gastrite é classificada principalmente com base na sua duração e na natureza da lesão na mucosa do estômago. Entender essa diferença é fundamental para direcionar o tratamento correto.

Gastrite aguda

A gastrite aguda surge de forma súbita e geralmente dura por um curto período. A inflamação da mucosa gástrica e seus sintomas, como náuseas, vômitos e dor na parte superior do abdômen, duram menos de um mês nesta classificação. Costuma ser causada por um gatilho específico, como o uso excessivo de medicamentos anti-inflamatórios, ingestão de álcool em excesso ou uma infecção alimentar.

Gastrite crônica

Diferentemente da aguda, a gastrite crônica se desenvolve lentamente e pode persistir por meses ou até anos. Se os sintomas de inflamação da mucosa gástrica, como náuseas, vômitos e dor na parte superior do abdômen, persistirem por mais de um mês, a condição é considerada crônica. Muitas vezes, seus sintomas são mais sutis ou até inexistentes no início.

A principal causa da gastrite crônica é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori (*H. pylori*). É importante notar que a infecção por essa bactéria, uma causa frequente de gastrite crônica, geralmente não provoca sintomas, o que dificulta sua identificação sem exames específicos. A bactéria *H. pylori* pode causar dois tipos principais de gastrite: a não-atrófica, uma inflamação crônica, e a atrófica, que é uma condição pré-maligna que pode evoluir para câncer de estômago.

Gastrite erosiva e não erosiva

Essa classificação se refere ao tipo de dano na mucosa. A gastrite erosiva causa um desgaste no revestimento do estômago, podendo levar a sangramentos ou úlceras. Já a gastrite não erosiva causa apenas a inflamação, sem essa perda de tecido.

E a gastrite nervosa, existe?

“Gastrite nervosa” é um termo popular, mas não um diagnóstico médico formal. Ele é usado para descrever quadros em que os sintomas de gastrite pioram significativamente com o estresse, a ansiedade e outros fatores emocionais. Embora o estresse não cause a inflamação diretamente, ele pode aumentar a produção de ácido no estômago e agravar um quadro já existente.

O que pode causar ou piorar a gastrite?

Diversos fatores podem agredir a mucosa do estômago, enfraquecendo suas defesas naturais e levando à inflamação. Os mais comuns são:

  • Infecção por H. pylori: é a causa mais comum de gastrite crônica no mundo, e pode levar a quadros mais sérios como a gastrite atrófica.
  • Uso de medicamentos: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ibuprofeno e aspirina, são conhecidos por irritar o estômago.
  • Consumo de álcool e tabaco: ambos irritam a mucosa gástrica e podem piorar a inflamação.
  • Estresse físico ou emocional: grandes cirurgias, traumas ou estresse psicológico intenso podem desencadear a gastrite aguda.
  • Doenças autoimunes: em casos mais raros, o próprio sistema imunológico pode atacar as células do revestimento do estômago.
  • Gastrite imunorrelacionada: um tipo de gastrite que pode surgir devido a tratamentos de câncer, frequentemente se manifestando com dor na parte superior da barriga, náuseas e vômitos.

Como é feito o diagnóstico da gastrite?

O diagnóstico correto é essencial para um tratamento eficaz. Ele começa com a avaliação clínica do médico, que ouvirá suas queixas e seu histórico de saúde.

O exame padrão para confirmar a gastrite é a endoscopia digestiva alta. Neste procedimento, um tubo fino com uma câmera na ponta é inserido pela boca para visualizar o esôfago, o estômago e o duodeno. Durante a endoscopia, o médico pode coletar pequenas amostras do tecido (biópsia) para analisar em laboratório, o que permite identificar a causa da inflamação, como a presença da bactéria H. pylori.

Qual é o tratamento para a gastrite?

O tratamento da gastrite é sempre individualizado e deve ser prescrito por um médico gastroenterologista. O objetivo é reduzir a acidez estomacal, aliviar os sintomas e tratar a causa subjacente da inflamação.

As abordagens podem incluir:

  • Medicamentos: podem ser prescritos antiácidos, bloqueadores de histamina (H2) ou inibidores da bomba de prótons para diminuir ou neutralizar o ácido do estômago. Se a causa for a *H. pylori*, o tratamento incluirá antibióticos.
  • Mudanças na dieta: evitar alimentos gordurosos, frituras, cafeína, refrigerantes, pimentas e alimentos muito ácidos pode ajudar a aliviar os sintomas.
  • Alterações no estilo de vida: parar de fumar, reduzir o consumo de álcool e aprender a gerenciar o estresse são medidas importantes para a recuperação.

O que fazer para prevenir e aliviar a gastrite?

Adotar hábitos saudáveis é a melhor forma de proteger seu estômago e prevenir o surgimento ou o retorno da gastrite. Algumas medidas simples podem fazer uma grande diferença:

  • Alimente-se bem: prefira refeições menores e mais frequentes. Inclua frutas, vegetais e grãos integrais na sua dieta.
  • Mastigue devagar: a digestão começa na boca. Mastigar bem os alimentos facilita o trabalho do estômago.
  • Evite automedicação: nunca tome anti-inflamatórios ou outros medicamentos sem orientação médica.
  • Controle o estresse: práticas como meditação, ioga ou atividade física regular ajudam a reduzir a tensão.
  • Hidrate-se: beber água ao longo do dia é fundamental para a saúde digestiva.

A gastrite é uma condição tratável, mas que não deve ser negligenciada. Ao sentir qualquer um dos sintomas descritos, o passo mais seguro é procurar um gastroenterologista para obter um diagnóstico preciso e iniciar o tratamento adequado, garantindo sua qualidade de vida.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.

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